São Petersburgo, a visita ao Catherine Palace e o jantar no Jamie´s Italian

No último dia em São Petersburgo, não acordamos tão cedo como queríamos e meu amigo conseguiu ficar quase duas horas tomando banho (haja paciência). Tinha deixado as compras pro último dia, portanto, seguimos para o Souvernir Market, que fica no caminho da Catedral do Sangue Derramado (Church of the Savior Blood). 
Catherine Palace

São inúmeras barracas dispostas na calçada ao lado do canal (Griboedov canal embankment). Vendem diversos modelos de matrioska (boneca russa artesanal), camisas, capas de almofada, canecas, etc. Finalmente encontrei um lugar em que todos falavam inglês e até arriscavam palavras em português e espanhol. A maioria dos objetos não possuem preço, mas, mesmo os que estão etiquetados podem ser negociados. Minha tática é perguntar o preço para alguns vendedores e depois começar a negociação. No fim, comprei 8 matrioskas de tamanhos variados. Meu amigo comprou matrioskas, caneca, capa de almofada, copo para vodka, busto de Lenin...
Souvernir Market
Matrioskas
Voltamos para deixar as compras no apartamento e seguir em direção ao Palácio da Catarina, que fica em Tsarkoye Selo, a 25 km de São Petersburgo. Preferimos pegar o metrô na estação Sennaya Ploschad, pois está localizada na linha azul e desceríamos na estação Moskovskaya (Московская), também na linha azul.
Estação de metrô Sennaya Ploschad
Segui para a bilheteria, já tinha deixado o mapa aberto no celular para mostrar para a atendente em qual estação desceria, pois não sabia se tinha preço diferenciado. Disse que custava 40 rublos (R$2,00) e que não tinha diferença na tarifa se fosse para outra linha/estação (foi a primeira pessoa que sorriu pra mim na Rússia! rs). O bilhete é uma moedinha, que é inserida na catraca. Devo ter ficado uns 5 minutos descendo na escada rolante, pois é muito profundo. Tinha segurança ostensiva no local, pois um mês antes teve um grande atentado terrorista no metrô.
Ficha do metrô
Encontrei placas com o alfabeto cirílico e alfabeto romano, portanto, não tive a menor dificuldade de me localizar. Mesmo assim, contei as estações e desceria 6 estações depois. A estação Moskovskaya é a mesma que tem os ônibus/vans para o aeroporto. A estação que desci parecia um bunker - um paredão de concreto com um portão de ferro, que só abre quando o metrô chega. Saindo da estação, encontramos um enorme monumento em homenagem a Lenin. A cidade parece bem segura, pois no local havia muitas crianças brincando. Na rua logo atrás da escultura, encontramos diversas vans estacionadas. É o ponto final. Identifiquei que a linha 342 (van) tinha como destino o "Catherine Palace". Li que a linha 545 também deixa no local.
Lênin
A van que leva ao Palácio de Catarina
É óbvio que ninguém falava inglês na van, pois todos eram russos. Identifiquei na placa que o valor da corrida era 40 rublos. Meu amigo abriu o google maps para seguir a rota via gps e saber onde exatamente teríamos que descer. Quando vimos uma multidão de chineses avisamos que desceríamos ali.

Seguimos o fluxo até encontramos a bilheteria. Não tinha informação em inglês e a senhora também só se comunicava em russo. A melhor opção é comprar online, pois o site tem a versão em inglês. Só sei que adquiri um ingresso por 120 rublos e só vi o Catherine Park, sem entrar no Palácio, mas também não tinha mais tempo. Particularmente, achei os jardins do Palácio de Catarina muito mais bonitos que os de Peterhof.


É curioso o fato que Catarina II nasceu Sofia Frederica e não era russa. Após a morte de Pedro, o Grande, sua filha Elisabeth assumiu o trono, mas não casou ou teve filhos. Então coube escolher quem a sucederia. Optou por um sobrinho distante, que jamais havia pisado em solo russo, o jovem Karl Pedro, de apenas 14 anos. Logo procuraram uma esposa para o novo rei, que era uma jovem princesa alemã. No entanto, o casamento adolescente não deu muito certo, pois Pedro arrumou uma amante, ficou desfigurado pela varíola e só interessava por militarismo. Restou a Catarina o interesse pelos livros, principalmente por filosofia.

Catarina tinha um enorme interesse por literatura e tentou se instruir ao máximo, que não era comum para as mulheres da sua época. Depois teve um filho e uma filha (morreu) e colecionou amantes, entre eles o futuro rei da Polônia e Orlov, oficial da artilharia, que a ajudaria com o golpe contra seu marido, pois concordavam que Pedro não conseguiria governar o país. Em 1761 Pedro se tornou o imperador, após a morte de sua tia Elisabeth. Ficou claro que Peter não se manteria no trono, pois incomodava militares e clero. Em 28 de junho de 1762 Catarina, a Grande, foi declarada imperatriz da Rússia. Ao saber que tinha perdido a coroa, Pedro chorou, pois reinou apenas seis meses. Poucos dias depois foi encontrado morto. A morte teria sido causada por cólica em razão de hemorroida, mas tudo indica que foi assassinado.

A imperatriz buscou incansavelmente o poder em pleno século 18 e quis imprimir sua marca em cada detalhe. Tinha uniformes militares e era pintada vestindo calça comprida. Teve uma vitória surpreendente diante da Turquia na sua primeira batalha, embora não tivesse à frente do seu exército. Após 5 anos de reinado, Catarina convocou uma comissão legislativa, formada por nobres e camponeses, para criar leis baseadas nos princípios iluministas. Decretou que todos eram iguais perante a lei, que a tortura seria banida, pois seu ideal era a liberdade. No entanto, o documento escrito pela imperatriz (Nakaz) era mais ambicioso e ordenava que todos os escravos deveriam ser livres, mas teve que ser modificado, pois os conselheiros consideraram a lei muito inovadora, que deixou Catarina perplexa. Assim como Pedro, o Grande, chegou ao Golfo da Finlândia, Catarina aumentou a extensão da Rússia, tomando parte da Lituânia, Polônia, e principalmente a Crimeia, que daria acesso ao Mar Negro.

Catarina trabalhou pelo império russo até seus 67 anos, quando morreu de um infarte. Acordava todas as manhãs para ler relatórios e escrever. Foi grande colecionadora de arte, além de ter vencido batalhas e mudado leis. Sua maior preocupação era com seu filho Paulo, que a sucederia, pois não gostava de artes e ciências, apenas do militarismo, como seu pai. Preferia que seu neto Alexander ascendesse ao trono, pois pensava como ela, mas não teve coragem de deserdar o filho. No dia da morte da mãe, quando Paulo foi coroado, mudou a lei para que nenhuma mulher voltasse ao trono na Rússia.

O museu Catherine Palace, que até 1910 era conhecido como o "Grande Palácio de Tsarskoye Selo", tem 300 anos de história. O edifício apresenta o trabalho de arquitetos dos séculos XVIII e XIX, mas também de restauradores que trabalharam após a Segunda Guerra Mundial. Dos 58 corredores destruídos na guerra, 32 foram recriados.







Em 1717, enquanto a cidade de São Petersburgo estava sendo criada nas margens do Rio Neva, o arquiteto Johann Friedrich Braunstein começou a supervisionar a construção da primeira residência real de alvenaria em Tsarskoye Selo (onde habitariam Pedro e Catarina I). Durante o reinado da Imperatriz Isabel, no final de 1742, o edifício foi ampliado.




A fachada do Palácio de Catarina é primorosa - composta por esculturas, paredes azuis e detalhes dourados. Os monumentos encontrados no complexo são: Catherine Palace, Cold Bath, Cameron Gallery, Upper bathouse, Lower bathhouse, Hermitage, Hermitage Kitchen, To my dear comrades in arms gate, Grotto, Admiralty, Hall on the island, Chesme column, Marble Bridge, Turkish bath, Pyramid, Gothic Gate, Tower Ruin, Orlov gate, Girl with a pitcher fountain, Concert Hall, Kitchen ruin, Creaking Summer house, Evening hall, Private Garden, Duty Stable, Alexander Palace, White tower, Martial Chamber, Imperial farm, Chapelle, Arsenal. 

O Palácio de jardins de Alexander foram construídos pelo neto de Catarina, que ascendeu ao trono após o golpe sofrido pelo pai, Paulo. Alexander teve a maior conquista que um imperador russo poderia desejar: derrotou a tropa de Napoleão e conquistou Paris.



O Catherine Park é composto por duas partes: o parque regular (jardim antigo ou holandês) e pelo parque paisagem (jardim inglês). Em 1720 os mestres jardineiros holandeses criaram o jardim antigo na frente do palácio imperial. Em meados do século XVIII o jardim foi ampliado e remodelado. Ao mesmo tempo um jardim inglês foi colocado na área sul do palácio. Catarina II começou a decorar o jardim com monumentos que exaltavam a grandeza do seu reinado. 
Hermitage

Chesme Column
Turkish Bath
Marble bridge
Pyramid
Concert hall
Creaking Summer-house
Kitchen ruin





Cameron Gallery

Ao contrário da visita em Peterhof, avistei muitos chineses na porta do Palácio, no entanto, poucas pessoas caminhavam pelo extenso jardim - a maioria que encontrei no parque pareciam russas. Gastei mais de três horas nos jardins, que impossibilitaria entrar no Catherine Palace, mas fiquei muito satisfeita com a visita. Para afastar o frio, comi um crepe de queijo e presunto e tomei um cappuccino numa barraquinha no jardim.
Crepe
Na saída, encontramos algumas barracas e compramos alguns badulaques. Adquiri uma capa de almofada com desenho de matrioska para dar a minha mãe, meu amigo comprou chapéu russo pro sobrinho, faca e capa de almofada.

Depois ficamos no mesmo lugar aguardando o transporte, mas percebemos que ali era mão única, logo, a van não voltaria pelo mesmo local e não sabíamos em que rua pegar. Esperamos e quando apareceu a de nº 342 entramos. O motorista tentou nos dizer algo que não entendemos (provavelmente que iria até o ponto final antes de voltar). Seguiu até um lugar bem estranho, que tinha um automóvel queimado na rua. Parou e depois de alguns minutos retornou e descemos no ponto final atrás do monumento de Lênin.

No caminho para o apartamento paramos em duas lojas. A primeira era de interesse do meu amigo, pois pretendia comprar cigarro eletrônico. Em seguida, fui até a "ArtKvartal", pois queria comprar aquarela. Gastei uma pequena fortuna. Quase chegando no apartamento, seguindo por uma rua que ainda não tínhamos caminhado, vimos um mercado com entrada subterrânea. Era maior que o "Spar" que fomos no primeiro dia na cidade, mas esse não aparecia no google maps. Comprei batata frita de camarão e de linguiça (minha sobrinha adora novos sabores), sorvete de Kinder, vodka, kvass, caviar.

Lápis e aquarelas

Chegamos mortos no apartamento e, como de costume, pesquisamos onde comer. Ainda tinha 7 mil rublos! Não encontrei casa de câmbio em São Petersburgo, embora não tenha procurado. Apenas vi na porta de um banco que faziam tal transação, mas naquela hora seria impossível. 

Constava no roteiro uma visita ao restaurante do Jamie Oliver (Jamie´s Italian) e não ficava tão longe, logo, seria possível ir caminhando. Li que está sempre cheio e precisa reservar, mas o relógio já marcava 23 horas e fechava meia-noite. Caminhamos apressados, como era sexta-feira, as ruas estavam cheias. Chegando lá a hostess perguntou sobre a reserva, disse que não tinha e nos levou até uma mesa. Em seguida, o garçom se apresentou e entregou o cardápio. Observei que a maioria das pessoas só pediam uma salada e água, inclusive as turistas chinesas da mesa ao lado. Tendo em vista que o estabelecimento pertence a um inglês, todos falam o idioma.


Estava com fome e com rublos sobrando, então pedi um drink (mais caro que o prato principal): Rossini. De entrada pedi crispy squid (lula) e croquetes de espinafre com ricota com um molho maravilhoso de tomate. O prato principal foi um ravioli de abóbora (homemade half moons of pasta filled with roasted squash & ricotta in a pumpkin sauce with rosemary & crushed amaretti). Para finalizar, comi a melhor sobremesa da minha vida: Panna cotta de baunilha com framboesa. E pedi outro drink "Dubble bubble" (vinho, cereja, licor de maça e capim-limão). Foi a melhor refeição da minha vida! Os preços estão no site, então não tem surpresa. Eu e meu amigo gastamos 3.650 rublos, cerca de 195 reais. A minha parte deve ter totalizado R$100,00. Duvido que o preço do restaurante do Jamie Oliver em São Paulo seja tão atraente quanto em São Petersburgo. 

Lula e rossini

Croquete de espinafre com ricota e molho de tomate
Meu ravioli

A massa do meu amigo

Panna Cotta

A sobremesa do meu amigo

No retorno, quase 1 da manhã, tinha barcos repletos de turistas passando pelo canal! E o céu ainda não estava completamente escuro (queria ter ido a partir de junho, pois há o fenômeno conhecido como "noites brancas", quando o sol não se põe). 


Assim que comprei a passagem de avião para Rússia, decidi que o roteiro continuaria até Tallinn de ônibus. Comprei a passagem no site da LuxExpress (empresa que opera nos países bálticos). Escolhemos a rodoviária que parecia mais próxima, contudo, dias antes da viagem, recebemos um e-mail, informando sobre a alteração, pois o ônibus não mais sairia daquela rodoviária, em razão dos atentados terroristas. Partiria da Coach Station (perto do metrô Obvodny Kanal). O horário também tinha sido alterado, de 9h para 8:15 da manhã. A viagem duraria 1 hora a mais.


Meu amigo agendou o uber para 7 horas da manhã seguinte, mas quando acordamos tinha perdido o agendamento. Nos arrumamos, deixamos a mala na porta do apartamento e pedimos o uber no celular. Assim que indicou que o carro se aproximava (era feriado na cidade), descemos a escada e fomos para a rua, que estava vazia. Naquele local já não tínhamos wi-fi. Era só torcer pro carro aparecer. Em dois minutos, o motorista estacionou e nos ajudou com a mala, ainda brincou com o peso. Foi a única pessoa na cidade que tentou conversar com a gente, mesmo sem falar nada em inglês, mas perguntou de onde éramos. Falou do Neymar. A corrida deu 146 rublos = 7 reais!!! Pela primeira vez usei uber numa viagem no exterior (Rússia, Espanha e Estônia) e o preço é ótimo, além de ser muito mais confortável que ônibus e trem e muito mais barato que táxi. Ainda mais vantajoso viajando com um amigo, pois dividimos os custos.

Ao chegar na rodoviária Coach Station, tivemos que passar as malas pelo raio-x. O local tinha muitos agentes do exército fiscalizando. Os turistas eram majoritariamente russos. Esperamos mais de uma hora. Não tinha local para lanchar e tive que usar o banheiro imundo. Os ônibus param no terreno atrás da rodoviária, conforme plataforma indicada no letreiro. Assim que a nossa plataforma foi indicada, pegamos as malas e seguimos para a área externa. Ficamos apavorados com os ônibus russos que paravam, mas, por sorte, o ônibus da Lux Express é maravilhoso, com wi-fi, tv, café, cappuccino, chá, água e banheiro. Muito mais confortável que viajar de avião. Assim que parou, entregamos a mala e recebemos um comprovante, depois mostramos o passaporte para o motorista, que tem uma tabela com o nome dos viajantes. 
ônibus russos
O confortável ônibus da LuxExpress
No meu roteiro constava algumas visitas que não consegui fazer (Fortaleza de Pedro e PauloMesquita SobornayaMuseu Fabergé), portanto, acrescentaria mais um dia na cidade. Se tivesse disposição, podia ter ido ao Museu Fabergé, pois ficava a 5 minutos do apartamento e fechava às 20:45, mas tinha momentos que a força acabava.

A experiência em solo russo causou sentimentos ambíguos, pois a frieza das pessoas contrasta com a beleza da cidade. Lembro de um russo, que conheci num voo rumo a Amsterdã, que me contou sobre a violência similar a do Rio de Janeiro, que não posso concordar, pois caminhava pelas ruas tranquilamente. Fiquei hospedada perto de todos os pontos turísticos, que facilitou, já que São Petersburgo é grande. O transporte e a alimentação são bem acessíveis. 

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