O primeiro dia em São Petersburgo

O Hermitage era um dos grandes museus que ainda não conhecia, logo, incluí a cidade de São Petersburgo, na Rússia, no roteiro. Encontrei passagem de Madri a São Petersburgo por 12.500 milhas no Smiles - talvez seja um dos trechos mais vantajosos em razão da distância. 
Um dos inúmeros canais da cidade. A primeira foto que tirei. O relógio marcava 21h e o sol brilhava no céu


O voo saiu de Madri às 6 horas com conexão em Roma, pois a companhia era a Alitalia. Em razão da reunião do G7, tive que fazer imigração novamente (em geral, só fazemos imigração no primeiro país da Europa que entramos, desde que seja membro da União Europeia). A fila consumiu 1 hora das 4 que teria que esperar para embarcar no próximo voo. Meu amigo ficou bastante indignado ao ver que os agentes perguntavam a origem da pessoa e se fosse dos EUA passavam a pessoa na frente...



Havia a opção de esperar em alguma sala vip, mas a a sala que disponível para o terminal que estávamos era a Le Anfore Lounge, no entanto, tivemos uma péssima experiência no último ano, então, preferimos ficar deitamos em sofás enormes dispostos no aeroporto e conseguimos cochilar. No trecho Roma-São Petersburgo, a Alitalia serviu refeição e o voo foi tranquilo.

Enquanto pesquisei a hospedagem, o Rublo, moeda da Rússia, estava com a seguinte cotação: 1 Real = 18 Rublos (depois ficou 1 = 17). Pensei que encontraria hospedagem por um preço razoável. Queria ficar perto das atrações, ou seja, procurei uma hospedagem próxima ao Hermitage ou da avenida Nevsky. Os hotéis estavam com as diárias acima de R$1.000,00! Recorri ao Airbnb, mas lembrei de uma informação que vi em algum comentário: se o texto estivesse escrito em russo era bem provável que a pessoa não se comunicasse em inglês.
O rublo
Quase sem esperanças de encontrar algo barato e bem localizado, entrei no site hoteis.com e achei um apartamento que tinha apenas duas avaliações, mas era idêntico ao que vi no Airbnb, por outro lado, o valor era melhor, pois não tinha as taxas do outro site. Reservei com a opção de cancelamento gratuito até a véspera da viagem.

O primeiro problema: não tinha o endereço completo no site e nenhuma forma de comunicação com o dono do apartamento. Liguei pro site e recebi o e-mail. No anúncio dizia que ofereciam transfer do aeroporto por 1.000 rublos (cerca de 55 reais). Enviei um e-mail, falando a data que me hospedaria, identificando o apartamento, bem como confirmei o transfer. Na primeira resposta pareciam confusos, mas depois encontraram minha reserva.

Durante uma pesquisa, descobri que é uma empresa com vários apartamentos para alugar na cidade https://bookingspb.com/en/apartments/griboedov_art/oranzhevye/. Pediram o whatsapp e passei o meu e do meu amigo, para contato futuro (a reserva foi feita um mês antes da data da hospedagem).

A Rússia tem as pessoas mais mal-humoradas que já vi na vida, todavia, com o passar do tempo, comecei achar graça no comportamento. O primeiro impacto aconteceu logo no controle de imigração, pois meu amigo sempre passa comigo, para que eu responda as perguntas. Não observamos que tinha uma placa indicando que só poderia passar um por vez. A policial começou a gritar com ele, que não entendeu nada. Eu o afastei pra trás e disse para esperar. Perguntou de onde vinha, disse que de Madri. Balançou a cabeça e disse "Aqui vejo que veio da Itália". Disse, sim, mas foi uma conexão apenas. Ela “Então você veio da Itália, não da Espanha”. Super dócil!

Enquanto esperava a chegada da bagagem, fui averiguar o câmbio na loja e percebi que o valor estava inflacionado. Meu amigo queria trocar logo, no entanto, disse que trocaria do lado de fora (nesse momento sou firme, pois sempre pesquiso bastante e tinha certeza que encontraria melhor cotação). Dito e feito, na loja localizada no hall de embarque a cotação era infinitamente melhor, mas levei uma “patada”. Fizemos o câmbio e meu amigo queria agradecer, então perguntei à funcionária como se dizia “obrigada”. Simplesmente fechou a janelinha com força e disse “no information!”. Aquela típica delicadeza russa!
O nosso “pesadelo” começou ao tentar conectar a internet. Só tinha uma rede aberta, a do aeroporto, mas não conectava. Como entraria em contato com a Tatyana (pessoa responsável por me mostrar o apartamento)? Não tinha loja de simcard. Fui no atendimento ao cliente e disseram que a internet funcionava.

Depois de alguns minutos tentando conectar nas lanchonetes, decidimos sair. Como acharíamos o transporte? Por sorte, consegui me conectar numa rede aberta e recebi a mensagem da Tatyana, dizendo que o transporte agora custaria 700 rublos, que estaria do lado de fora. No entanto, a comunicação continuava ruim, pois não informou a placa, a cor do carro (são várias cores de táxi). Se era táxi ou uber. Mandei outra mensagem e tive que andar até achar outra rede aberta, perguntei a placa e pedi o endereço do apartamento, pois em último caso poderíamos ir de metrô ou táxi. Isso demorou mais de 30 minutos. Veio uma mensagem com a placa e a cor do carro. Chegamos lá e não tinha nenhum carro com aquela descrição. Novamente tive que achar outra rede aberta (elas apareciam e sumiam o tempo todo) e dizer que não tinha encontrado. Então me sugeriu pegar um táxi oficial, pois os que ficam parados no aeroporto não são confiáveis. 

Tinha visto a opção de pegar a van (são várias) que deixa na estação de metrô Moskovskaya, mas seguindo a orientação, entramos novamente no aeroporto, passando pelo raio-x, pois tinha informado para pedir o táxi no centro de informação aos clientes. Lá a atendente disse que teria que pedir na cabine do lado de fora. Pensei que gastaria uma quantia considerável para sair do aeroporto, pois percorreria 28 km até o apartamento. O valor foi bem razoável, ainda mais para dividir por 2: 1.150 rublos. O valor é tabelado. Pegamos o voucher e seguimos para encontrar o táxi com a placa descrita na nota fiscal. 


Chegamos no aeroporto por volta das 17h, já tinha passado das 18:30h. Uma enorme perda de tempo só em razão dos entraves na comunicação. Ao chegar na porta do apartamento, que reconheci, pois tinha visto no google maps (se tivesse chegado caminhando seria difícil encontrar o local, pois nem todos os prédios tinham numeração, inclusive o que ficaríamos), cadê a Tatyana? Como entraria? Fazia frio e tinha vontade de chorar. Andamos até uma lanchonete próxima para acessar a internet, todavia, tinha que ter uma linha local para receber a senha por sms. Voltamos e ficamos na porta por uns 30 minutos e nem sinal da russa. Atravessamos a rua com as malas e encontramos um sinal de internet. Liguei para Tatyana “Oi, você pode abrir o portão, pois está fechado.” Disse que estava aberto, mas não estava. Funcionava com senha. Finalmente apareceu no portão e atravessamos correndo e emocionados. 
O prédio que encontramos após passar o portão 
O local era meio assustador. Depois de passar pelo portão (de garagem) encontramos vários prédios. Tem uma porta pesada de ferro - parecia um bunker, com senha. E entramos no prédio bem destruído, frio e escuro. No segundo andar, outra porta, dessa vez bonita e lustrada. Explicou que era um grande apartamento que dividiram em 5 quitinetes para alugar. Entramos no apartamento laranja. Era bem pequeno, cerca de 14 m2, mas tudo limpo. Wi-fi funcionando perfeitamente, quarto aquecido. Tinha uma cama no mezanino e um sofá-cama, onde ficaria meu amigo. Na parte comum dos apartamentos, tinha uma máquina de lavar, um bebedouro com água quente e fria e um micro-ondas.
Arrumamos as coisas e tomamos banho para dar uma volta da vizinhança. Às 21h o céu estava claro em São Petersburgo, que nos permitiu andar e perceber a quantidade infinita de restaurantes por perto. Optamos por comer numa lanchonete quase ao lado do apartamento, Pita´s. Comi um lanche maravilhoso: falafel tradicional e uma sidra de cereja. O espaço é minúsculo e aconchegante. Tem quatro mesas apenas. A pessoa pega o cardápio (tinha uma versão em inglês) e paga no balcão. O sanduíche custou 195 rublos e a bebida 220. 

Era quase 22h e decidimos procurar um mercado para comprar o café da manhã do dia seguinte. No mapa sugeriu que o mais próximo ficava a quase 2km, o Spar, que tem em outras cidades da Europa. No último dia entramos em um mercado maior que ficava muito próximo ao apartamento, mas não tinha placa na porta e era subterrâneo. 

Peguei queijo, chiclete, pão, salame, café, suco e iogurte saiu por 435 rublos (cerca de 23 reais). O que me chamou atenção é que não tinha produtos típicos, como vodka e caviar. Na hora de pagar foi hilário, pois o caixa, que era uma senhora, perguntou algo que não entendi e não tive como responder. Passou as compras e paguei. Depois gesticulei que queria uma sacola. Ela ironicamente disse “packet” (пакет) ou pacote. Justamente a palavra que ela perguntou e não soube responder.
No caminho de volta aconteceu algo estranho, pois um casal parou a gente para perguntar algo. Seguimos caminhando rápido e não respondemos. Quase 23h e param estrangeiros para pedir informação, só pode ser cilada.

É essencial baixar o mapa de São Petersburgo, pois o primeiro contato com o alfabeto cirílico é bem complicado. Tinha o google maps, que usa gps e internet. Meu amigo usava o maps.me também, que não precisa de internet. Dificilmente encontrará um russo disposto a ajudar ou que fale inglês.

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