San Blas

Sempre quis visitar San Blas. Assim que decidi fazer um stopover de três dias no Panamá, minha única certeza é que iria até o arquipélago.


Tendo em vista que comprei a passagem um dia antes da viagem, não tive tempo para contratar o passeio para San Blas. Fiz contato com uma agência que encontrei no Instagram (Bon voyage pty), que cobrava um bom preço, 120 dólares, mas pedia depósito de 25 dólares, só que deu apenas duas formas de pagamento: Yappy ou depósito em conta. 

 

Busquei ainda algumas opções no site Viator, que permite cancelamento. Lá tem dois problemas, algumas agências só fechavam a partir de 2 pessoas ou não aceitavam reserva para o dia seguinte, que era o meu caso. 

Perguntei no hotel se teria contato de alguma agência para o dia seguinte.  O gerente imediatamente ligou para um amigo, Rodrigo, que cobrava 125 dólares pelo tour + 22 dólares de taxas, ou seja, 27 dólares (150 reais) a mais que a agência online. No entanto, não vi outra alternativa, ainda mais por ser garantido. Em minutos, o dono da agência foi lá buscar o depósito de 50 dólares, passou o Whatsapp do motorista que me buscaria. Pediu para esperá-lo a partir das 5h da manhã do dia seguinte.


Só tinha levado uma mochila, tirei os documentos e deixei apenas o snorkel, as câmeras, a toalha de secagem rápida. No hotel me disseram para comprar água. Comprei uma garrafa de 2 litros no mercado da rua. Levei apenas um frasco de 100ml de protetor solar.

Precisa levar o passaporte, pois passa por um controle da Polícia no caminho. 

Em geral, a maioria dos passeios oferecem o mesmo serviço:

-Transporte em carro 4x4, pegando e deixando no hotel

-Transporte de lancha do porto de San Blas até as ilhas

-Almoço com bebida

-Guia

O que pode ser diferente: as ilhas que serão visitadas. E há também a opção de se hospedar nas ilhas, mas as hospedagens costumam ser simples (sem ar-condicionado, luz elétrica, wi-fi).


Para quem tem tempo e dinheiro disponível, uma boa opção é visitar as ilhas de veleiro. Oferecem serviço all inclusive, atividades aquáticas por vários dias (recomendam 7), parada em inúmeras ilhas. Há embarcações compartilhadas e privadas (https://www.sanblascatamarans.com).

Após um temporal que perdurou por toda a madrugada, inclusive pensei que o container (hotel) que estava iria voar, levantei às 4h sem muita esperança de presenciar um bom tempo naquele dia. Outubro é o mês mais chuvoso no Panamá. Recomendam visitar San Blas no período seco, de dezembro a abril. 

Coloquei short, camiseta, chinelo, peguei a mochila e quando abri a porta do quarto simplesmente parou de chover. Ainda estava escuro. Desci e esperei. Deu 5:15 mandei mensagem para o motorista, que já estava chegando. 


O carro 4x4 estava cheio, mas sentei ao lado do motorista (super confortável). Consegui dormir até a parada na lanchonete. Aproveitei para efetuar o restante do pagamento ao motorista. São 3 horas da Cidade do Panamá até San Blas. Só levei dinheiro e me arrependi, pois todos os turistas na lanchonete estavam pagando com o cartão Wise. As notas de dólares lá são bem velhas e teria que trocar o dinheiro. Comprei uma empanada, um café e um saco de tortilla. É bom comprar tudo o que pretende comer, pois nas ilhas não têm muitas opções. 

Na última hora de viagem a estrada é muito ruim, pois tem verdadeiras crateras na pista sinuosa, além de muitos carros abandonados. 

No caminho há uma barreira policial onde é feito o pagamento de uma taxa de 20 dólares por passageiro para entrar no território Guna Yala, além de realizarem controle de passaporte. Pensei que o controle era uma exigência do povoado que administra San Blas, mas o motorista disse que não, pois a partir daquele ponto era possível ir para a Colômbia, país vizinho. Um dos passageiros faria esse roteiro de barco (uma semana de viagem). A polícia até questionou sobre o enorme embrulho sobre o carro. O motorista apontou pra mim, respondi ao policial que não era meu. Aí o motorista apontou para o turista canadense, que disse que estava levando uma bicicleta. Não quis ver. E se a cidadania fosse outra?  

O motorista foi deixando os passageiros em "portos" diferentes, pois algumas pessoas ficariam mais dias, outros não retornariam. E me deixou no último cais. Vi que pagam uma taxa portuária de 2 dólares por cada passageiro. Antes dele ir, perguntei se estaria me aguardando no retorno. Colocam os nomes numa planilha e chamam assim que grupos são formados. Enquanto esperava, só lembrava da música no grupo Maná "En el muelle de San Blas", que pode ser sobre outra ilha, mas acredito que seja sobre a panamenha.

 

Soube que, no percurso, normalmente tudo o que é levado molha dentro do barco. Fiquei apavorada. Muitas pessoas estavam com saco estanque ou mochilas próprias para atividades no mar. Peguei um saco plástico e coloquei a câmera, na outra sacola enfiei a mochila, para não encharcar. Naquele dia não tinha vento e nada molhou!

San Blas é um arquipélago formado por 365 ilhas, uma para cada dia do ano. As ilhas são geridas pelo povo indígena Guna Yala (ou Kuna Yala). A tribo é formada por cerca de 62 mil pessoas. Historiadores acreditam que tenham migrado no século XVI para a região, retirando do oceano o seu sustento. A população é independente semiautônoma. A sobrevivência sempre decorreu da pesca, da agricultura e da confecção de roupas. São conhecidos pelas molas (fui no Museo de las Molas na Cidade do Panamá), que é uma prática têxtil. 





Os Guna Yala possuem seu próprio idioma, o gunagaya. A escrita é a mesma, mas a forma de falar pode variar. Também possuem sua própria lei, conforme previsão na Constituição do Panamá, que reconhece, garante e respeita o direito à autonomia de possuir, controlar, desenvolver e usar seu próprio território e recursos em razão da propriedade ancestral e histórica. 





Recentemente, a série espanhola La Casa de Papel mostrou San Blas, mais especificamente a Isla Pelicano, onde os personagens Tóquio e Rio se escondem. 

Os meus companheiros de viagem foram 4 panamenhos, 1 colombiana e 2 filipinas. Assim que saímos do cais, o barco teve problema no motor e parou numa ilha próxima para trocar uma peça - não demorou muito. O que me chamou atenção foi a densidade demográfica daquela ilha, pois tinha muitas habitações grudadas, como nas favelas. Não vi sequer via terrestre. 




O guia informou que ficaríamos na Isla Perro Chico até às 14h, hora do almoço.  Chegamos às 9:30, portanto, teríamos mais de 4 horas  na ilha! Estava praticamente deserta, acredito que, após nossa chegada, tinha umas 14 pessoas. Não sou uma amante de praia (moro no Rio de Janeiro e nunca vou), mas gosto de conhecer lugares paradisíacos. Posso dizer que nunca vi nada tão deslumbrante. O dia estava ensolarado, que faz toda a diferença para a coloração do mar. O mar tem cores incríveis. A ilha era toda circundada por natureza. Muitos peixinhos. A temperatura da água era morna! Naquele momento me arrependi de não ter dedicado mais dias, pois ficaria tranquilamente ali mesmo sem conforto. Descobri que tem duas ilhas com o mesmo nome, uma é Perro Chico (pequeno) a outra Perro Grande, que disseram que não é tão bonita.











Comecei a me questionar o motivo de San Blas não ser tão valorizado quanto as Maldivas - destino turístico sinônimo de paraíso, mas a resposta é evidente: não é um local dedicado ao segmento de luxo. Não tem resorts all inclusive, não tem hotel boutique, não tem pousada confortável. Muitos entendem luxo como ostentação, contudo, não tem nada mais magnífico que um local com a natureza tão preservada. E aquelas ilhas são território do povo indígena Guna, ou seja, ainda tem uma cultura desconhecida que enriquece a experiência. Provavelmente os indígenas prezam pela conservação do lugar, mas não sei como funcionam as leis que conseguem afastar as grandes redes hoteleiras. Apesar da idealização de uma cultura que afasta grandes empresas, o guia e dono do barco se mostrou bastante descontente ao ver alguns iates e jet skis no mar, pois contou que eles não podem comprar esses transportes (me pareceu que não há permissão, não era uma questão financeira, pois ganham todo o dinheiro advindo do turismo na região).

Primeiro aproveitei o mar, depois coloquei a máscara do snorkel para ver os peixinhos. Em seguida, caminhei pela ilha para fazer registros fotográficos. Por sorte, a colombiana também estava sozinha e caminhou comigo, tirando as minhas fotos. 



 

Quando chegamos perguntaram o que gostaríamos de comer, optei por polvo, mas achei bem borrachudo. Poderia escolher peixe ou frango. O acompanhamento foi salada e patacones (banana verde frita). Bebi Coca-Cola. Depois serviram frutas de sobremesa - ninguém quis. Comi o mamão praticamente sozinha (não posso comer abacaxi). Vendem lagostas por 20 dólares. 

As mulheres Guna do local eram bem arredias, pois perguntei se poderia tirar uma foto com ela e disse que não (ninguém é obrigado, ok). Posteriormente, a panamenha pediu, respondeu que tiraria por 5 dólares!!! E, como num passe de mágica, estava sorridente posando pra foto!


Após a refeição, seguimos para um banco de areia no meio do oceano que chamavam de "La piscinita". As cores do mar eram indescritíveis. Tirei fotos. Vi uma estrela do mar (peguei na mão, mas não tirei da água). Colocaram música e jogamos bola. No barco tinha também uma prancha de stand-up paddle. Os panamenhos levaram muitas bebidas no cooler e ofereciam cerveja, mas não bebo cerveja.

 

 





Por fim, seguimos para Isla Diablo. Não sei se saem com as ilhas pré-definidas para cada guia ou se escolhem conforme a lotação de turistas. É importante ressaltar que a internet 4G Tigo funciona perfeitamente nas ilhas.  Assim que chegamos a água tinha uma coloração diferente, parecia "listerine". Observei que as acomodações pareciam mais confortáveis que na ilha anterior. Tinha um grupo grande jogando vôlei.






 

No retorno, aguardei poucos minutos até o motorista me buscar. No caminho de volta o tempo mudou completamente e não dava para ver uma palmo na frente do carro em decorrência da neblina. Teve a parada no mesmo restaurante da ida. Pegamos um engarrafamento já na Cidade do Panamá e cheguei no hotel às 21h. 

 

San Blas é imperdível. Imagine a sorte de poder visitar várias ilhas!


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Experiências incríveis!