Antínoo e Adriano - uma história de amor
Ao que parece, o cinema está próximo de retratar a vida do Imperador Adriano. Nascido Públio Élio Trajano, Adriano foi imperador de 117 a 138 e se destacou como mecenas da arte e se apaixonou pelo que seria o homem mais bonito de todos os tempos: Antínoo, um jovem encantador (trinta e quatro anos mais jovem que o imperador romano).
A francesa Marguerite Youcenar escreveu um livro ficcional sobre o imperador, "Memórias de Adriano" (1951), com o 4º capítulo dedicado ao belo grego Antínoo: Saeculum aureum.
Antínoo e Adriano escreveram no tempo uma das mais belas histórias de amor que tenho conhecimento.
O efebo foi muito bem descrito pela autora supracitada "O belo galgo ávido de carícias e de ordens instalou-se em minha vida. Admirava sua indiferença, quase altiva, por todas as coisas que não se referissem a seu prazer ou a seu culto".
Adriano estava imbuído por um sentimento nobre que refletia na forma de governar "Roma, amor: A divindade da cidade eterna identificava-se pela primeira vez com a mãe do amor, inspiradora de todas as alegrias. Esse era um dos planos da minha vida. O poderio romano assumia assim seu caráter cósmico e sagrado, a forma pacífica e tutelar que eu ambicionava conferir-lhe". A morte de seu amado obscureceu seu mundo...
"Evidentemente, não incrimino a preferência sensual, demasiado vulgar, aliás, que determinava minhas escolhas em matéria de amor. Paixões semelhantes atravessaram constantemente minha vida; esses frequentes amores só me haviam custado, até então, um mínimo de juramentos, mentiras e males [...]. O hábito nos teria conduzido ao fim sem glória, mas sem desastre, que a vida oferece a todos os que aceitam seu lento enfraquecimento pela saciedade. Teria visto a paixão transformar-se em amizade, como querem os moralistas, ou em indiferença, o que é mais frequente."
Memórias de Adriano, Marguerite Youcenar
Antínoo (fragmentos)*, Fernando Pessoa
Ainda chovia. Em leves passos veio a noite
Fechando as pálpebras cansadas dos sentidos.
A mesma consciência de eu e de alma
Tornou-se, qual paisagem vaga em chuva, vaga.
O Imperador imóvel jaz, e tanto que
Semiesqueceu onde ora jaz, ou de onde vem
A dor que era inda sal nos lábios seus.
Algo distante fora tudo: um manuscrito
Que se enrolou. E o que sentira a fímbria era
Que halo é em torno à lua quando a noite chora.
A cabeça pousava sobre os braços, estes
No baixo leito, alheios a senti-lo, estavam.
Os seus olhos fechados cria abertos, vendo
O nu chão negro, frio, triste, sem sentido.
Doer-lhe o respirar tudo era que sabia.
Do tombante negrume o vento ergueu-se
E tombou; lá no pátio ecoou uma voz;
E o Imperador dormia...
Os deuses vieram....
E algo levaram, qual não senso sabe,
Em braços de poder e de repouso invisos.
Suas boca e mãos os jogos de repôr sabiam
Desejos que seguir te doía a exausta espinha.
Às vezes parecia-te vazio tudo
A cada novo arranco de chupado cio.
Então novos caprichos convocava ainda
À de teus nervos, carne, e tombavas, tremias
Nos teus coxins, o imo sentido aquietado.
* O original foi escrito em inglês.
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