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Obras de arte que podem ser vistas nas igrejas

Não professo qualquer religião, mas quando viajo visito templos, pagodas, igrejas, mesquitas e sinagogas. Eventualmente é possível encontrar obras relevantes para a história da arte nos espaços eclesiásticos - comumente nas igrejas católicas.
 
Segundo Gombrich (célebre historiador da arte), em 311 D.C. o Imperador Constantino estabeleceu a Igreja Cristã como um poder no Estado, sendo necessário construir lugares de culto. No que diz respeito à decoração das basílicas, houve disputas violentas envolvendo o uso de imagens na religião. A maioria dos cristãos concordavam que não deveria ter estátuas na casa do senhor.

O Papa Gregório, o Grande, ressaltou - para os que eram contra às pinturas - que muitos membros da igreja não sabiam ler e escrever, logo, as imagens poderiam ensiná-los, como um livro ilustrado. A pintura poderia fazer pelos analfabetos o que a escrita fazia para os que liam. Tal pontuação foi de suma importância para a história da arte, pois uma autoridade se colocou em favor da pintura. Sua sentença era sempre citada para quem atacava o uso das imagens.

Tudo o que pertencia à igreja tinha uma função de reverberar os ensinamentos da igreja. A arte tinha como objetivo refletir a ideologia cristã. 

Abaixo descrevo apenas obras que pude conhecer (e fotografar) pessoalmente.

Detalhe da Porta do Paraíso

Bruges

Church of Our Lady

Obra: Madonna and Child

Artista: Michelangelo

A escultura da virgem com o menino foi a única encomenda a deixar a Itália durante a vida de Michelangelo. A obra aparece no filme Caçadores de obras-primas.

Além de pintor, Michelangelo era escultor, arquiteto, poeta e engenheiro militar, sendo considerado um dos grandes mestres da Renascença. Nasceu em 1475, perto de Arezzo, e morreu em 1564 em Roma. Provinha de uma família nobre florentina, mas sem meios econômicos.

Num período de quatro anos aceitou encomendas para trinta e sete obras individuais, incluindo trinta e uma esculturas. Se comprometeu em realizar uma de bronze, embora não tivesse experiência anterior com fundição da liga metálica. De todas os pedidos, conseguiu entregar apenas o David, a Madonna de Bruges, o David de bronze (perdido) e o Tondo Doni. O restante dos projetos não saíram da prancheta.

A Madonna de Bruges foi uma solicitação do comerciante (flamengo) de tecidos Jean-Alexandre Mouscron para a capela da sua família em Notre-Dame de Bruges. O contrato foi firmado nos finais de 1503. Em 1505 a Madonna foi embalada para ser transportada e enviada, onde continua a adornar a capela até os dias atuais. A primeira menção de sua presença em Bruges foi feita por Albrecht Dürer, que designa como obra de Michelangelo no seu diário de viagem aos Países Baixos em abril de 1521.

Zöllner, Frank. Michelangelo: The Complete Paintings, Sculptures and Architecture.



Giovana (minha sobrinha) e eu com a Madonna de Michelangelo
 

Florença

Batistério de São João (anexo da Santa Maria del Fiori)

Obra: Porta do Paraíso

Artista: Lorenzo Ghiberti

O artista criou uma sensação de notável profundidade neste baixo-relevo. Ghiberti conseguiu esse efeito empregando os conceitos formais da perspectiva. Por exemplo, as figuras tridimensionais do primeiro plano são dispostas contra a paisagem que recua a distância. As portas são constituídas por dez grandes painéis em que são representadas cenas do Antigo Testamento. Muitos as consideram como a expressão máxima da arte florentina, particularmente quanto à maestria da composição e da perspectiva.

Essas portas inspiraram outros grandes artistas da Renascença florentina. Muitos anos depois, Michelangelo apreciou a obra de Ghiberti, chamando as portas de Portais do Paraíso. Nos últimos anos de vida, escreveu sua autobiografia, que foi a primeira escrita por um artista a sobreviver.

O livro da arte (1999).


 

Istambul

Hagia Sofia (antigamente foi Igreja Santa Sofia)

Obra: Arte bizantina

A população de Constantinopla atingiu, no começo do século V, mais de um milhão de habitantes. Durante toda a Idade Média, Bizâncio foi a terra de maravilha dos grandes tesouros, dos palácios luzentes de ouro e das festas intermináveis. Em arquitetura, especialmente no interior das igrejas, experimenta-se, como nos mosaicos murais, o espírito majestoso e dominador. Os retratos, que constituem parte das suas rígidas composições, são, muitas vezes, espantosamente cheias de vida. 

Hauser, Arnold. História Social da Literatura e da Arte.

 

 

Nova Iorque

Cathedral of Saint John the Divine

Obra: The Life of Christ

Artista: Keith Haring

Existem nove edições do tríptico, que foi concluído algumas semanas antes da morte de Haring, em 16 de fevereiro de 1990. O mais simbólico fica no altar da igreja supracitada, pois foi o local da cerimônia fúnebre. É sua obra final para transmitir esperança, paz e eternidade.

As pessoas que desenhavam em grutas há milhares de anos fizeram coisas que ainda estão no mundo. O mundo torna-se cada vez maior. As pessoas como Jesus Cristo acrescentaram coisas no mundo que também não desapareceram. Essa é uma responsabilidade ainda maior. As coisas que eu faço são um acréscimo muito pequeno comparado com isso.

Thompson, Robert Farris. Keith Haring Journals.




Roma

Santa Maria della Vittoria

Obra: O êxtase de Santa Teresa 

Artista: Bernini 

Santa Teresa tem uma visão de um anjo que lhe crava uma espada de ouro no coração. Desfalecida, em abandono físico e espiritual - simbolizando seu amor por Deus -, ela expressa a intensidade de sua experiência mística. Este grupo de mármore é um perfeito exemplo do espírito do Barroco - repleto de drama, emoção e movimento. 

Bernini foi artista notável do Barroco italiano. Arquiteto consumado e escultor, praticamente monopolizava as encomendas de obras de arte para o papa durante a "época áurea" de Roma.

O livro da arte (1999).


 

 

Toledo

Iglesia de Santo Tomé

Obra: O enterro do Conde de Orgaz

Artista: El Greco

Torvelinhos de formas e cores foram utilizados aqui para criar uma imagem dinâmica e visionária do Paraíso. O objeto central da pintura, o conde de Orgaz, era um dignatário de Toledo, tão piedoso que os santos Agostinho e Estêvão apareceram miraculosamente em seu funeral para levar seu corpo à sepultura. Acima, seu corpo se eleva ao reino dos céus, observado por membros da nobreza e do clero local. 

Nascido em Creta, El Greco estudou em Veneza e em Roma antes de mudar para Toledo. Transformou suas influências em um estilo próprio, intensamente espiritual, com suas formas alongadas, movimentos arrebatadores e cores brilhantes, às vezes sobrenaturais. Nesse sentido, pode-se considerar que a obra de El Greco seja a síntese do Maneirismo que estava em seu apogeu.

O livro da arte (1999).

 


Vaticano

Basílica de São Pedro

Obra: Baldaquino

Artista: Bernini 

Bernini era ainda muito jovem quando começou, o cibório-baldaquino de São Pedro, sua tarefa ao mesmo tempo escultural, arquitetônica e urbanística, partindo do ponto máximo sagrado: o túmulo do Apóstolo situado sob a cúpula de Michelangelo.

Em São Pedro, o movimento helicoidal das colunas, depois de ter-se propagado em quatro pilastras, tinha inevitavelmente de canalizar-se nas naves.

Ao contrário de Michelangelo, o poder de Bernini em seu âmbito cultural não foi incontestado. Não se entenderia o sentido da sua obra a não ser comparando-a, passo a passo, com todas as correntes artísticas ativas.

Argan, Giulio Carlo. História da Arte como História da Cidade.

 


Basílica de São Pedro

Obra: Pietà

Artista: Michelangelo


Michelangelo esculpiu a Pietá para o túmulo do Cardeal francês Jean de Bilhères-Lagraulas, que anteriormente se encontrava na capela de S. Petronilla, no lado sul da antiga basílica de São Pedro.

Em novembro de 1497, deslocou-se a Carrara para iniciar a procura de um bloco de mármore adequado. A sua presença em Carrara está documentada em fevereiro de 1498. O contrato estipulava também que a obra deveria estar concluída no prazo de um ano, que parece ter sido cumprido.

São dignos de nota a questão do empréstimo da Pietà para a Feira Mundial de Nova Iorque de 1964 e do atentado contra a escultura por um visitante com perturbações mentais na Basílica de São Pedro em 21 de maio de 1972. 

Provavelmente não foi Michelangelo, mas o Cardeal de Bilhères-Lagraulas que escolheu o tema para o seu túmulo, pois era frequentemente encontrado em contexto sepulcral na França.

Numa faixa que atravessa diagonalmente o peito da Virgem, encontra-se a seguinte assinatura: MICHAEL.A[N] GELVS.BONAROTVS. FLORENTIN[VS].FACIEBA[T] ("O Florentino Michelangelo Buonarroti").

Zöllner, Frank. Michelangelo: The Complete Paintings, Sculptures and Architecture.

 

Capela Sistina

Obra: Teto da Capela Sistina

Artista: Michelangelo 
 

Já se escreveu mais sobre os afrescos do teto da Capela Sistina do que sobre qualquer outra obra de Michelangelo. Os próprios contemporâneos do artista ficaram estupefatos com a monumentalidade do afresco, com superfície contínua pintada de mais de 500 metros quadrado se cerca de 350 figuras individuais, sem precedentes na sua época. 

Os nove campos pictóricos da abóbada mostram episódios da história da Criação até à embriaguez de Noé. O ciclo começa na extremidade oeste da capela, acima do altar e termina na parede da entrada, na extremidade leste. Organiza os acontecimentos retirados do Gênesis nos nove campos pictóricos da abóbada na seguinte ordem: no primeiro campo Deus separa a luz e as trevas, no segundo, cria o Sol, a Lua e as plantas. Segue-se a separação da terra e da água e, em dois campos separados, a criação de Adão e Eva . A Queda e a Expulsão do Paraíso estão reunidas num só quadro, enquanto o Sacrifício de Noé , o Dilúvio e a embriaguez de Noé estão divididos em três campos distintos.

A Criação de Adão, sem dúvida, recebeu mais atenção na literatura do que qualquer outro campo individual do afresco. As razões para tal residem, por um lado, na solução compositiva inovadora e, por outro, nas figuras - difíceis de identificar - que estão debaixo do braço e do manto de Deus. Deus Pai flutuando num manto ondulante acompanhado por figuras secundárias é também invulgar para uma representação da Criação de Adão.

O vento vivificante da Criação estaria a soprar diretamente para o rosto do Criador. O dedo de Deus daria a Adão os preceitos pelos quais ele deve viver - simboliza assim a animação do primeiro homem.

Zöllner, Frank. Michelangelo: The Complete Paintings, Sculptures and Architecture.



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