Jean-Michel Basquiat e os anos 80


 Capítulo 3

Jean-Michel Basquiat e os anos 80 


Imagem nº8: Untitled (1984)


 
Antes de falarmos de sua inserção nos anos 80, faz-se necessário falar sobre esse momento, o contexto histórico em que ele viveu. Nas artes, os anos 80 são marcados pela retomada da pintura através do Neo-expressionismo e da Transvanguarda. Tal como o Expressionismo se diferencia do pensamento racional impressionista, a volta da pintura nos anos 80, como linguagem, colocará em voga novamente o pensamento expressionista, que irá se reestabelecer diante da Arte conceitual e Minimalismo.



Como periodização cabe o pós-modernismo, que é em si uma denominação cheia divergências. Para Suzi Gablik: “Postmodernism is the somewhat weasel word now being used to describe the garbled situation of art in the ‘80s”, que seria resultado do pluralismo decorrente do fim dos anos 70. Para ela, a arte sob o título de “plural”, acaba por se tornar permissiva em demasia, abrindo espaço para o “vale tudo”, já que o artista teria liberdade para expressar o que desejasse (refere-se principalmente ao Neo-expressionismo). Enquanto o modernismo era ideológico, o pós-modernismo é eclético. Com o pluralismo, onde não existe o limite para o aceitável, é levantado o questionamento sobre o que seria arte depois do pós-modernismo (1992, p73).

Para Lyotard o pós-modernismo seria um processo que estaria em desenvolvimento desde o século XIX, onde a passagem do moderno para o pós-moderno estaria intrinsecamente ligada à modernização ocorrida a partir do desenvolvimento técnico-científico (principalmente através da informática, cibernética e dos bancos de dados). Ele coloca que o pós-moderno “designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX.” Essas regras, estariam ligadas a aceleração das mudanças, acarretando numa exacerbação de saberes (2002, p. xv).

Antoine Compagnon conceitua pós-modernismo como “contrário aos dogmas da coerência, do equilíbrio e da pureza sobre os quais o modernismo se fundará, o pós-modernismo reavalia a ambigüidade, a pluralidade e a coexistência dos estilos, cultiva ao mesmo tempo a citação vernácula e a citação histórica. A citação é a mais poderosa figura pós-moderna.” (1996, p.109).

Então, ao voltarmos os olhos para Basquiat, poderemos enquadrá-lo perfeitamente no que Compagnon diz, e, por conseguinte, reforçar a intenção de mostrá-lo como “um paradoxo (in)constante”, tendo em vista seu trânsito por diversos saberes, convertendo tudo para dentro de seus trabalhos, que além da presença da pluralidade e ambigüidade culturais, são cheios de citações — ao mundo capitalista, a questões políticas, aos elementos constituintes do corpo humano, à simbologia da rua, à musica, ao esporte...

Adiante podemos verificar algumas influências de natureza pictórica em Basquiat. Jean mostra-nos uma visão reinterpretada da Pop Art, onde podemos nos remeter aos trabalhos de Rauschenberg, que conseguia unir uma pintura saturada aos elementos corriqueiros da vida cotidiana de forma irônica e bem humorada, ainda pela utilização de suportes não convencionais. Alberto Tassinari observa: “É a relação com a tradição pictórica americana - em especial Hofmann, Still, Kline e Rauschenberg -, e que entra em suas obras de maneira esboçada e fragmentada, que dá um grande vigor às suas pinturas e desenhos.” (1998, p.86) São muitos os símbolos relacionados ao universo capitalista. Ao olharmos para seus trabalhos, vemos muitas palavras escritas, tais como: gold, Cherokee, copyright, salt, money, cartoon, sugar, milk, bronze, bank, industry, tobacco, hollywood, yen, movie star, universal studio, global industrial, gasoline. Seu interesse por produtos é evidente (imagens 11 e 13), afinal de contas, we live in a material world — o que sinaliza com clareza o envolvimento de sua obra com a realidade contemporânea. Por outro lado, junto a tudo isso, constamos um referencial romântico em Jean, que seria a representação dos seus sentimentos em relação ao mundo. A realidade representada através de sua expressão individual, suas emoções, o entrelaça ao expressionismo dos anos 80.


No fim de sua carreira, aos 28 anos, ele pintava a morte. Sua autodestruição como usuário de heroína foi sendo explicitada aos poucos, sua angústia e dor no contato com o mundo, os conflitos quanto à sua legitimação como artista simplesmente — independente do clichê “artista negro” (imagem 14). Parafraseando Warhol, se quisermos conhecer a vida de Basquiat é só olharmos sua obra, está tudo lá, materializada em uma linguagem que se afirma pela negação dos pensamentos clássicos do formalismo modernos.


Você também pode gostar

0 comentários

Experiências incríveis!