Havana (1ª parte)


"Havana, ooh na na. Half of my heart is in Havana..."
Camila Cabello


Cuba é um destino que requer alguns dias de pesquisa a mais que outros em razão da sua singularidade. O país exige visto de brasileiros, como contei pormenorizadamente em outro post, no entanto, a "tarjeta del turista" pode ser adquirida na companhia aérea. Outra questão inquietante é que moeda levar, se Euro ou Dólar, e ainda, que moeda usar, pois existem duas oficiais, o CUC e o CUP. Algumas pessoas indicam a hospedagem em Vedado, mas gostei de me hospedar tanto em Habana Vieja quanto em Centro Habana, como contei aqui


Decidi que era hora de conhecer Cuba e previamente sabia do interesse de um amigo em visitar o país de Fidel. Perguntei se gostaria de viajar e topou imediatamente, contudo, ele tinha sérias restrições no meu período de férias, pois faria uma prova naquele mês de novembro. Teríamos apenas uma semana, então só poderia experimentar Havana e Varadero, embora tivesse excelentes recomendações sobre Trinidad, Cienfuegos, Cayos, etc.

A segunda etapa foi encontrar uma passagem com preço razoável, mas não achei qualquer promoção naquele período, então, compramos na Copa Airlines, por R$2.300,00 - preço bem elevado se comparar com a passagem que comprei pra Bangkok no ano anterior - paguei o mesmo preço. Saindo de Brasília, o voo era R$600,00 mais barato, todavia, não compensava ir pra outra cidade, custeando voos internos e hotel. 

Prefiro pagar a hospedagem previamente, então, optamos por reservar um hostal nos 3 primeiros dias e uma casa particular nos 2 últimos dias no Airbnb, que só opera no país há um ano. Informamos ao hostal que precisaríamos do serviço de transfer, por 30 CUCs (cerca de 30 euros).

No dia da viagem estava ansiosa, pois é preciso ter o certificado internacional de febre amarela, mas meu amigo não tinha! Tendo em vista que mora no interior de Minas Gerais, perguntou o valor da vacina numa clínica que emitia o certificado em Juiz de Fora, cidade próxima, mas cobrava mais de 200 reais. Deixou para tentar a sorte no dia da viagem no escritório da Anvisa, no 3º andar do Galeão! Em tese, só atendem com agendamento. Chegou no aeroporto antes das 8h, horário que inicia o atendimento. Conseguiu o certificado em poucos minutos, após mostrar a carteira de vacinação. Me mandou uma mensagem e fiquei aliviada. 

O voo só sairia às 12:30, então deixei minha casa às 9:30. Chegando no aeroporto, avistei meu amigo na fila do check-in e "furei fila". Dois dias antes de viajar, liguei para a companhia aérea com objetivo de sanar dúvidas sobre o visto, disseram que deveria ser adquirido apenas na conexão no Panamá, só aceitariam dólar e pago em espécie, então reservei o valor. A despeito da informação que recebi, a atendente pediu o certificado internacional de vacinação e, em seguida, quis saber se tínhamos o visto. Disse-me que deveria ser adquirido ali por R$65,00. Informou que o valor oscilava de acordo com a cotação do dólar do dia, disse que poderia pagar apenas em Real. Levava poucos reais, mas encontrei o montante necessário para efetuar o pagamento.

Assim que entramos na aeronave, percebemos que o voo estava lotado. Escolhi um assento no corredor e meu amigo na janela. De repente, um rapaz perguntou se poderíamos mudar de lugar com ele, mas ouviu uma negativa (vou ao banheiro várias vezes e só viajo no corredor). Durante o voo, fiquei com pena, pois contou que era a primeira viagem internacional dele e da esposa, que a viagem original era pra ter acontecido dois dias antes, mas chegaram atrasados. Teve que pagar praticamente o mesmo valor que já havia pago no pacote para ir pra Cancún. 

O primeiro trecho no voo da Copa Airlines foi tranquilo e teríamos 1 hora de conexão no Panamá, sem necessidade de fazer imigração. Meu amigo disse que ia fumar do lado de fora do aeroporto. Ao chegar do lado de fora, disseram que ali era proibido, que teria que se afastar para fumar. Desistiu e voltou. Adivinha? Teve que fazer controle de imigração. 

O segundo trecho foi a visão do inferno. Na fila não tinha ordem, era um empurrando o outro, muita falta de educação. Teve um atraso considerável. Parecia que não tinha limite de bagagem, pois as pessoas levavam sacolas imensas e muitas malas. Fiquei furiosa com a aeromoça, que retirou minha mochila do compartimento de bagagem. Questionei e disse que poderia guardar apenas malas! Ora, quem viajava com mais bagagem tinha prioridade? Todo mundo que levava mala também tinha mochila. Embaixo dos meus pés havia uma caixa que me deixava sem espaço. Novamente coloquei a mochila e retiraram. No entanto, alguns homens que estavam na minha frente guardaram as mochilas e não tiveram o mesmo problema. 

Desde maio de 2010 é exigido seguro de saúde para cobertura de despesas médicas em Cuba. Essa foi uma grande dúvida, pois não adquiri o seguro de saúde online. Tenho direito a seguro do cartão (Mastercard) em qualquer país (ao comprar a passagem com o cartão), exceto Cuba, pois a sede da empresa fica nos EUA. Assim que desembarquei vi que tinha um guichê da Asistur. Eu e meu amigo já estávamos esperando que nos mandassem fazer o seguro na hora, pois já era quase meia-noite e o guichê estava aberto e fica localizado antes da imigração. Não pediram o seguro. A policial que fez a imigração foi muito simpática.

Ao sairmos, vimos um senhor segurando uma placa com o nome do meu amigo. Fui informá-lo que faríamos câmbio antes de seguir viagem e recebi uma resposta bem grosseira. Em geral, os cubanos são bem amáveis, mas esse motorista era bem amargo, talvez fosse resultado do atraso que tivemos. Disse-me pra fazermos no dia seguinte, na cidade, pois o hostal o pagaria. O que ele não entendeu é que teríamos que pagar o transfer ao hostal naquele dia. Depois bateu o pé que só um deveria fazer câmbio. Novamente tive que insistir que éramos amigos e cada um é responsável por suas dívidas, logo, nós dois faríamos. Do lado de fora tem uma cadeca (casa de cambio) e tinha fila. Imediatamente o motorista se manifestou e nos colocou na frente com ajuda do guarda. Só uma pessoa entrava de cada vez. Levei euro e a conversão foi a seguinte: 1 euro = 1,13 CUC, enquanto 1 dólar = 0,87 CUC. 
Finalmente entramos no carro e seguimos em direção a Habana Vieja. Ainda na estrada, o motorista parou num posto de gasolina e saiu do carro, sem nos dar a menor satisfação. O primeiro contato visual com Havana é arrebatador e ficamos extasiados!!! 
Chegamos no hostal, que já estava fechado, mas em poucos minutos abriram a porta, pois avisamos sobre o horário previsto para a chegada. Entramos e logo tivemos que fazer o pagamento do transfer. Nosso quarto ficava no segundo andar e o pé-direito era bem alto, então subimos muitos degraus. 
A hospedagem escolhida, na verdade, não é um hostel, mas um "hotel boutique", pois os quartos são privados. O Hostal Las Maletas tem 12 quartos e fica muito bem localizado, além de ter passado por reforma, ou seja, está novinho. Banheiro reformado, ar-condicionado, camas confortáveis, frigobar. Não tem tv no quarto. Meu amigo fez a reserva das duas hospedagens em Havana, pois já tinha feito do resort em Varadero. Pagamos R$114 por diária, ou seja, menos de R$60,00 para cada! O lugar me surpreendeu positivamente!
A responsável pelo hostal naquele horário mostrou o quarto e foi dormir. Meu amigo correu para tomar banho primeiro e não conseguiu usar o chuveiro. Enrolado em uma toalha correu o hostel inteiro atrás de Alana. Foi hilário. Disse que tomou banho com umas gotinhas que saiam. Quando entrei, coloquei a mão e o chuveiro funcionou perfeitamente! Gargalhava horrores!!! Esperávamos chegar e sair para jantar, mas tivemos um atraso de mais de 2 horas. 

No dia seguinte, acordamos cedo e descemos para tomar o café da manhã, que não está incluído na diária. Custa 6 CUC pra cada cada pessoa. A refeição é cara, pois não tínhamos muita variedade. Foi servido uma omelete (ou ovos mexidos), bacon, uma fatia de queijo, umas torradas, suco, fruta e café. Eles pediam que o pagamento fosse feito imediatamente. Minha sugestão econômica é comer no café que tem na frente, Cafeteria Aché, que só visitei no último dia, quando já não estava hospedada no hostal. Tinha me "assustado" porque os preços estavam em CUP (moeda nacional), que não é muito comum no bairro de Habana Vieja. Tomei um refresco e custou 0,25 de CUC.

Assim que tomei banho fui na sacada para ver a rua e uma criança que morava em frente mandou beijos. A senhora que o segurava gritou que ele amava as loiras! O dia estava cinzento pela manhã, chovia bastante. Peguei meu guarda-chuva, Guilherme pegou o que tinha no quarto para os hóspedes e saímos para explorar a cidade.
O vizinho fofo


Instalei previamente o melhor app de localização offline, o MAPS.ME, baixei o mapa de Cuba, mas antes de sair do hostal o GPS simplesmente não conseguia me localizar. Então saímos com o roteiro que tinha feito, mas sem mapa. Seguimos flanando pelas ruas de Havana.
O cocotáxi, um dos meios de transporte da cidade
Registro que o acesso à internet em Cuba é bem precário. É preciso comprar um cartão da ETECSA (La empresa de Telecomunicaciones de Cuba) e encontrar um hotspot com wi-fi, seja nas ruas (aqui tem uma lista com os endereços dos espaços públicos) ou no hall dos hotéis. O preço sugerido e de 1 CUC pelo cartão de 1 hora e 5 CUCs pelo de 5 horas.



Caminhamos até o Capitólio Nacional, prédio que foi a a sede do governo de Cuba até a Revolução cubana. A arquitetura tem como inspiração o prédio do Capitólio de Washington, nos EUA. Seguimos pela avenida "Paseo Martí" e cada carro antigo que passava fazia com que suspirássemos, pois era nosso primeiro contato com o "cartão postal" de Havana. 

Lanchonete 
Atrás do Capitólio, na rua Industria, fica a charutaria "Fabrica de tabacos Partagás", que é uma das mais antigas fábricas de charuto, no entanto, foi deslocada para outra localidade. Atualmente existem mais de 500 pessoas produzindo as marcas mais famosas, seja Cohíba ou MontecristoA empresa foi fundada em 1845 pelo espanhol Jaime Partagás. No local agora funciona um museu, que cobra 10 CUCs pela vista guiada. Entramos apenas no salão de vendas, que estava lotado de turistas.




No retorno, passamos na porta do Gran Teatro de la Habana, que oferece visitas guiadas, mas não entramos. Depois caminhamos por todo o Paseo del Prado (também conhecido como Paseo de Martí), que começa no Capitólio e vai até o Malecón. A rua serve como divisão entre Habana Vieja e Centro Habana. O ambiente é agradável por ser arborizado e naquele momento fazia um calor terrível. A construção iniciou em 1772, logo após se tornou muito popular com a burguesia da cidade. Edifícios importantes foram erguidos em ambos os lados. No início do século 20 se tornou o local mais procurado pelas famílias bem-sucedidas para construir suas residências. No final de 1920, o paisagista francês Jean Claude Nicolas Forestier colocou leões de bronze, bancos de mármore e lâmpadas no local.





No fim do Paseo del Prado encontramos o Malecón, que é o calçadão da orla (tem 7km), vai de Habana Vieja até Vedado. Atravessamos a avenida e contemplamos o Castillo de San Salvador de la Punta. O mar estava bem agitado e ventava muito.



No retorno, na rua San Juan de Díos, vimos um "supermercado" (Ideal Mercados) e decidimos entrar para conhecer a realidade dos cubanos. Naquele momento tive um choque, pois sabemos sobre o embargo dos EUA a Cuba, mas me deparar com a escassez de produtos foi muito impactante. Não existe mercado como nos outros países, que você entra e escolhe os produtos e as marcas que prefere. Encontrei um balcão e a vendedora vai embalando o que é pedido. Não tem opção. Tem um tipo de açúcar, de feijão, de arroz, etc. Existe uma caderneta, pois os produtos são limitados e cada um só pode adquirir uma quantidade específica de alimentos. 






Ainda não era meio-dia e seguimos para conhecer "La Floridita", bar que ficou famoso porque Ernest Heminway visitava o local para beber seu daiquiri. Conseguimos um lugar no bar, embora o ambiente estivesse cheio de turistas. Pegamos o menu e optamos pelo daiquiri clássico, com açúcar, gelo, suco de limão, Marrasquino (licor de cereja) e rum. O preço é salgado: 6 CUCs. Serviram chips de banana junto com a bebida, além de ter música ao vivo.






 

Na saída, passamos pelo Patio de los artesanos, que é uma feira de artesanato que vende suvenires de Cuba.



Seguimos pela rua mais famosa de Havana, Obispo, que está sempre cheia e movimentada. Ali encontramos cadeca (casa de câmbio), lanchonetes que vendem com CUP (moeda nacional), farmácias, livrarias, etc.


Na mesma rua, esquina com Aguiar, encontramos a linda Drogueria Johnson, que foi aberta em 1914. Anteriormente as farmácias eram conhecidas como "boticas" e chamavam atenção por suas elegantes instalações.







Voltamos ao hostal para decidirmos onde almoçar, pois já estávamos cambaleando de fome. Fiz uma lista com lugares próximos com bom custo-benefício. Finalmente o gps me encontrou e o app Maps.me funcionou, pois até aquele momento caminhamos sem qualquer mapa. Logo na rua seguinte tinha o restaurante "VanVan", muito bem avaliado no Tripadvisor (3º lugar). Fomos recebidos por uma simpática garçonete, que carinhosamente apelidamos de "Penélope", pois parecia a Penélope Cruz. Pedi "Pollo curry arroz ensalada" por 6 Cucs e um mojito por 2,50 Cucs. O restaurante é maravilhoso, tanto que voltamos naquele dia e no dia seguinte.








Com a energia renovada, seguimos até la Plaza de la Catedral, onde fica a Catedral de Havana. Naquele dia não visitamos a igreja, pois estava acontecendo um evento escolar na praça e ficamos de expectadores, aplaudindo as apresentações.





Em razão da proximidade, entramos na "Casa del Marqués des Arcos", que é considerada um dos expoentes da arquitetura residencial em Cuba. A construção data de 1741. Já funcionou como Correio e Liceu Artístico e Literário. Atualmente abriga a Oficina Gráfica Experimental de Havana, onde artistas (principalmente cubanos) fazem serigrafias, gravuras e litografias. Não pagamos ingresso para visitar a casa, mas os funcionários que mostram os objetos pedem uma contribuição.









Visitamos ainda a rua Brasil (também conhecida como Teniente Rey), logo após, entramos na Basílica de São Francisco de Assis, construída em 1716, que é símbolo da presença da ordem franciscana em Havana. É uma reconstrução, pois a original, erguida em 1951, foi destruída por um furação. Após o domínio inglês, a basílica passou a servir aos anglicanos, nos anos seguintes a Igreja Católica deixou de utilizar a igreja como local de culto. Em 1907 o governou comprou a igreja e a transformou em armazém. Hoje é uma das melhores casas de concertos, em razão da excelente acústica.






Olha quem estava na rua Obispo
Na rua Obispo, no retorno para o hostel, nos deparamos com um grupo circense que animava os pedestres.


Anoiteceu, antes de irmos jantar, resolvemos passar na boate lgbt que ficava numa rua próxima (Fashion Bar Habana), e, segundo relatos de um site cubano, tinha show de drags (que amo!). Passamos no local umas três vezes e não vimos nada que pudesse ser uma boate. Meu amigo foi até uma moradora local se informar. Ela nos respondeu "Ah, o prédio foi comprado por um coreano. Dividiu em vários apartamentos para alugar". 

Novamente voltamos ao restaurante "Van Van", pois meu amigo queria jantar, eu apenas pedi uns croquetes de vegetais e bebi um daiquiri. Guilherme logo fez amizade com as alemãs da mesa ao lado, perguntando se não queriam ir conosco em uma boate, que também encontramos na internet, mas disseram que estavam cansadas. Perguntamos ao "bicicletáxi" quanto seria a corrida até o inferninho. O cara queria 10 Cucs, depois desceu pra 7 Cucs, mas nos informaram que o valor correto seria 2, então decidimos caminhar, não chegava a 2 km. Andamos nas ruas praticamente sem iluminação pública, mas não sentimos medo. Chegando lá, cadê o tal "Escaleras al cielo"? Não existia! Alguns homens vieram oferecer o ingresso para o show que funciona no prédio, o famoso "Buena Vista Social Club". No retorno, um motorista de táxi nos parou, falou que era um grande atleta de baseball, além de ter vindo nas Olimpíadas do Rio de Janeiro como convidado. Disse que treina em dias alternados e quando está livre trabalha como taxista. Mostrou as fotos no celular!

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Experiências incríveis!