O azul

 "Para mim, as cores são seres vivos, indivíduos 
extremamente evoluídos, que se assemelham a nós..."
Yves Klein in "International Klein Blue"

Parafraseando Goethe, na sua teoria sobre a cor - do infinito - esta cor tem sobre o olhar um efeito estranho, quase indizível. Ela é energia feita de cor. Ela estimula e acalma simultaneamente.
 
Quando Platão contemplava o céu de Atenas e Aristóteles sentia o Mar Egeu, lá estava o azul. Sabiamente Kandisnky, artista e professor da Bauhaus, numa tentativa de classificar as cores [Do espiritual na arte], mencionou "O olho sente a cor. Experimenta suas propriedades, é fascinado por sua beleza. A alegria penetra na alma do espectador, que a saboreia como um gourmet, uma iguaria."

Recentemente, a cor em epígrafe ganhou destaque em razão do título [brasileiro] de um filme francês: O azul é a cor mais quente (originalmente La vie d´Adèle). Num apertado parágrafo, podemos dizer que a cor foi condição sine qua non para cooptar os olhos de uma mulher e fazê-la refém por todos os seus dias.



Durante algumas viagens, me pego contemplando coisas diversas, de construções a pigmentações, e afetivamente reuni os momentos em que o azul me emocionou, seja na casa da Frida Kahlo, do Yves Saint Laurent ou nos quadros do Yves Klein.


 
Frida Kahlo, nascida em Coyoacán, Cidade do México, numa das páginas de seu diário [O Diário de Frida Kahlo, um autorretrato íntimo], rabisca com lápis de cor na folha do livro e descreve "También la ternura puede ser de este azul". Numa residência de um azul intenso, "La Casa azul", hoje conhecida como "Museo Frida Kahlo", a artista nasceu e morreu. A cor pulsa e acolhe o verde da natureza, criando uma harmonia visual ímpar.
 



 
Em pleno diálogo está a casa de Yves Saint Laurent, situada no charmoso Jardin Majorelle, em Marrakesh. O azul que cobre as paredes é conhecido mundialmente por "Azul Majorelle" e contrasta com o amarelo, criando uma paisagem única no meio de uma cidade reconhecidamente ocre. As cinzas do estilista repousam eternamente no misterioso jardim marroquino.



 
 
Para finalizar a tríade, entretanto, sem encerrar um rol crescente de espantos, destaco a obra do francês Yves Klein, precursor do movimento Novo Realismo, que é um dos artistas que mais me encantam na História da Arte. Seus trabalhos monocromáticos executados com o azul patenteado "International Klein Blue" são exuberantes. Telas pintadas por pinceis vivos ou tradicionais, que pude fruir nos museus de Paris, Amsterdã ou Berlim, ficaram em mim como tatuagens. Segundo Klein, "Sentir a alma, sem ter de explicar por palavras, e representar esta sensação foi, julgo eu, uma das razões que conduziram à monocromia."


Gostaria de ter o talento de um ensaísta para eternizar o azul extraviado no mundo longínquo que o verde dos meus olhos pode gravar na minha memória, no entanto, pela inexistência de tal capacidade, deixo apenas um registro.

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